Em junho de 2025, parceiros(as) do TERRA-em-escala (LAS - sigla em inglês) de todo o mundo se reuniram na Colômbia para um poderoso intercâmbio de três dias, combinando diálogo técnico sobre governança da terra com aprendizagem imersiva no território ancestral Arhuaco da Sierra Nevada de Santa Marta. Este resumo captura as principais ideias do intercâmbio, com foco na gestão indígena, governança intercultural, ferramentas participativas, recuperação ambiental e o poder da conexão global.

Os fundamentos espirituais e territoriais da gestão arhuaco
O Encontro TERRA-em-escala começou com uma saudação espiritual da comunidade Arhuaco em Katanzama, que descreveu seu território como o “Coração do Mundo”. Como afirmou Vicentique Santiago Salabata: “É uma verdadeira honra para nós tê-los aqui. Hoje unimos os pensamentos de todos os povos, em homenagem aos nossos anciãos”.
Os Mamos (autoridades tradicionais) compartilharam sua visão de mundo, enraizada no equilíbrio com a natureza e nas obrigações ancestrais. “A terra é um altar”, disse um ancião. “Ela nos cobre hoje para que todos nós nos tornemos parte desse sistema.” Outro enfatizou: “Nós, como povo Guaco, estamos aqui há milhares de anos. Somos o povo originário desta terra. É por isso que existe o conhecimento ancestral.”
Os(as) participantes aprenderam como a recuperação de terras para os(as) Arhuacos envolve tanto processos legais quanto responsabilidade espiritual. Um representante Arhuaco disse: “A recuperação do território implica uma responsabilidade no mundo invisível. É isso que nos permite ter harmonia com a natureza”.

Aprendendo com a experiência Arhuaco: um modelo para o mundo
Andrés Bernal, da Connexion, descreveu a importância desse cenário: “Estamos na quarta troca de aprendizagem e temos a sorte de estar na Colômbia — e a sorte dupla de estar em Santa Marta com o povo Arhuaco”
Ele lembrou aos(as) participantes que o programa LAS está ativo em 12 países — Burundi, Burkina Faso, Chade, Egito, Moçambique, Ruanda, Palestina, Somália, Uganda, Colômbia e outros — e que cada contexto é diferente. Mas ver a abordagem do povo Arhuaco em relação à terra e à vida deu aos(as) participantes um exemplo de governança profundamente enraizada.
“O Povo Arhuaco não considera a terra como uma mercadoria”, afirmou posteriormente um dos participantes. "Consideram-na como vida. Isso muda completamente a perspectiva.”

Mapeamento participativo e administração fundiária adequada aos objetivos
Um elemento-chave do aprendizado foi como as próprias comunidades estão liderando a administração técnica da terra. Em uma sessão com a Kadaster International, os(as) participantes aprenderam como as equipes de terra Arhuaco usam ferramentas GPS com precisão submétrica e mapas de campo para coletar dados espaciais. Juan e Hugo, da equipe de mapeamento comunitário, explicaram como seu trabalho se desenvolveu: “No início, nos concentramos na coleta de dados de campo, mas agora passamos a trabalhar no escritório — editando dados, fazendo mapas e compartilhando resultados”.
O objetivo é incorporar os terrenos não registrados à reserva Arhuaco por meio de compras legais e reconhecimento formal. “Esses terrenos já são ocupados por nós”, disse um membro da comunidade, apontando para um mapa, “mas ainda não foram incorporados legalmente. Queremos expandir a reserva e unificar legalmente o que já é uma realidade vivida”.
O esforço baseia-se em uma versão localizada do Modelo de Domínio da Administração Fundiária (LADM), adaptado especificamente para territórios indígenas, conhecido como Administração Fundiária Adequada à Finalidade (FfPLA - sigla em inglês).
Governança Intercultural da Terra: O Desafio Nacional da Colômbia
O Instituto Geográfico Agustín Codazzi (IGAC) apresentou o contexto mais amplo da administração fundiária na Colômbia. “A Colômbia é intercultural”, afirmou um representante do IGAC. “Mas essa palavra não pode ser apenas um slogan. Precisamos transformá-la em um diálogo real.”
Ele continuou: “Hoje, existem 885 reservas indígenas na Colômbia, cobrindo cerca de 35 milhões de hectares — quase 35% do país. Outros 6 milhões de hectares pertencem a comunidades afrodescendentes. Se não construirmos um cadastro intercultural, nunca concluiremos o trabalho”.
Ele lembrou ao público que o trabalho cadastral na Colômbia é difícil. “A Sierra Nevada é linda e mágica, mas também muito montanhosa. Algumas áreas recebem chuva 99% do ano. Outras ficam nas profundezas da Amazônia ou da Orinoquia. Precisamos de abordagens que reflitam essas realidades.”
Ele concluiu com um fato gritante: “Em 2022, só tínhamos dados confiáveis sobre 6% do território colombiano”.
Além disso, a terra é um pilar fundamental do Acordo de Paz assinado em 2016. O acordo visava formalizar a propriedade da terra para milhões de colombianos(as) e adjudicar terras a novos beneficiários. Assim, um cadastro multifuncional também é entendido como parte dos esforços de construção da paz.

Inovação comunitária e restauração ambiental
Um dos destaques do intercâmbio foi a visita a Katanzama, uma comunidade que conecta a montanha ao mar. Essa visita demonstrou a importância entre a posse da terra, a proteção ambiental e o desenvolvimento de meios de vida a partir da produção sustentável. Um momento marcante foi a apresentação sobre a produção de café em Gunmaku, no alto das montanhas. O produtor Jorge Torres explicou a filosofia Arhuaco por trás disso: “Produzimos menos, mas produzimos com qualidade e harmonia. Nosso café vem da nossa terra e do nosso modo de vida”.
Os(as) participantes também viram imagens de satélite do Tropenbos, mostrando a recuperação da floresta entre 1973 e 2025. Os líderes comunitários explicaram como reflorestaram áreas degradadas, deixando 80% das terras recuperadas para a natureza. “Nossa lei”, disse um deles, “não é apenas legal. É ancestral. Recuperamos a terra para restaurar seu espírito”.
Onassis, diretor de uma escola local, acrescentou: “A educação ambiental não se resume a ensinar fatos. Trata-se de dar continuidade às nossas tradições e responsabilidades. As crianças aprendem isso com os Mamos (líderes espirituais)”.

Um encontro global de desafios comuns
Cada equipe nacional do LAS trouxe suas próprias histórias. Em sessões moderadas, os(as) participantes discutiram como as lições da Colômbia se aplicavam em lugares como Somália, Moçambique, Uganda e Palestina. Muitos enfatizaram como foi inspirador ver as dimensões espirituais, jurídicas, ecológicas e práticas da governança fundiária se unirem.
Algumas das principais reflexões sobre o aprendizado incluíram:
- O papel fundamental dos(as) agrimensores(as) comunitários(as);
- A importância de alinhar os quadros jurídicos formais com o direito consuetudinário;.
- A necessidade de respeitar os prazos e evitar pressionar por “ganhos rápidos”;
- Reconhecer a terra como fonte de identidade e base para a paz.

Conclusão: Fortalecimento da Comunidade Global LAS
O intercâmbio TERRA-em-escala na Colômbia ofereceu não apenas aprendizado, mas também conexão. Ele lembrou a todos(as) os(as) participantes que a terra nunca é apenas uma questão técnica. Como disse um dos palestrantes: “A terra nos cobre a todos. E quando a ouvimos, começamos a entender nosso lugar no mundo”.
Ao basear o intercâmbio global na sabedoria e na prática do Povo Arhuaco, o encontro alcançou seu objetivo: aprender com o local para transformar o global.
O programa TERRA-em-escala é financiado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos e gerido pela Agência Holandesa para o Desenvolvimento Empresarial (RVO). Quer saber mais sobre o programa? Acesse TERRA-em-escala | Land Portal ou siga-nos no LinkedIn
Esta publicação foi produzida com a ajuda de IA. O conteúdo foi revisado pela equipe do TERRA-em-escala, bem como por membros da equipe do Land Portal que participaram do evento.