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Um clima de agitação, ansiedade e incerteza, suscepơvel de levar a sérias tensões sociais, tem estado a crescer junto das comunidades do Distrito de Palma, nomeadamente da Vila-Sede e povoações circunvizinhas. Estratégias sinuosas e inconsistentes, de comunicação com as comunidades locais, entremeadas de indícios de atropelos à lei, por parte das autoridades governamentais a vários níveis, sobre o processo conducente à construção da Fábrica de Gás Natural Liquefeito, a ser explorado na Bacia do Rovuma, são a principal causa deste clima. E, a menos que medidas correctivas urgentes e ponderadas sejam tomadas, há receios fundados de que venham a repetir-se em Palma, e quiçá numa escala ainda maior, as prolongadas perturbações sociais da região de Moatize, em Tete, onde as populações reassentadas em Cateme, para dar lugar ao projecto de extracção de carvão, protestam contra a precariedade das suas condições de vida.
Num dos mais recentes episódios indiciando a emergência de tal ambiente, a comunidade da aldeia de Quitupo inviabilizou uma reunião com o Administrador e a Secretária Permanente do Governo Provincial de Cabo Delgado, no dia 10 de Agosto passado, apupando-os e abandonando-os no local do encontro. Neste encontro, uma equipa da multinacional petrolífera Anadarko, acompanhada pelos dois oficiais do governo, deu a conhecer às comunidades locais, num só "golpe", o seguinte: (1) um DUAT, recaindo sobre as suas terras, havia sido emiƟdo a favor da Anadarko AMI1 e da ENH Logistics; e que, em consequência (2) elas vão ser dali removidas e reassentadas numa outra região. Sem mais! Recebendo esta informação sem praticamente qualquer processo preparatório e informativo, as populações pediram explicações e, não as recebendo, abandonaram o local e os representantes das autoridades.
Precisando de apoio técnico de emergência, representantes das comunidades locais apelaram à assessoria jurídica do Centro Terra Viva (CTV), uma ONG de advocacia e estudos ambientais, a qual respondeu ao pedido, enviando para o local vários técnicos, incluindo a respectiva Directora Geral, Alda Salomão. No dia 20 de Agosto, Alda Salomão é abordada às 6 horas da manhã, no seu local de hospedagem, por agentes da Policia da Republica de Moçambique (PRM), que a levam para a esquadra local, aonde a submetem a interrogatórios inƟmidatórios, acusando-a de incitar a população à desobediência e, quiçá, à violência. Alda Salomão havia participado no dia 18 numa reunião organizada pelo governo distrital e a empresa com a comunidade de Quitupo, onde ouviu as populações a insistirem no esclarecimento das suas dúvidas, sem contudo receber respostas esclarecedoras.