Conheçam a pequena comunidade de Jacaré de Gonçalves Ferreira, em Caruaru, Brasil, onde um grupo de mulheres está celebrando sua vitória.
Mapa de Localização do Sitio do Jacaré, Caruaru, Pernambuco. Fonte: Google Earth
Comunidade Jacaré, Caruaru, Pernambuco. Foto: Espaço Feminista
A comunidade foi sendo construída há muitos anos atrás na terras que pertenciam à Rede Ferroviária Nordestina. Os trens já não passam pelos trilhos há mais de 20 anos e um grupo de famílias afirma que recebeu permissão da empresa para construir as suas casas nessas terras. “Ninguém nunca veio reclamar essas terras”, afirma Ana Clécia e adiciona “é a primeira vez que a gente recebe esse papel”. A jovem liderança está se referindo à ordem de despejo que todas e todos moradores receberam em Fevereiro de 2018, dando às famílias 15 dias para que fossem à justiça provar seu direito a permanecer na terra ou deixar as terra e suas casas.
Dona Maria do Carmo é conhecida como a moradora mais antiga da comunidade, ela afirma que mora na mesma casa (que nos mostra com muito orgulho) há mais de 55 anos, onde ela teve seus 7 filhos e ajudou a criar os mais de 15 netos e netas. Ela afirma que chegou em Jacaré quando ainda era uma criança e diz que é onde ela quer morrer. Ela nos diz que não vai deixar sua terra e casa, e que vai lutar pelo seu direito.
Ana Clecia de Jacaré. Foto: Polly Cavalcanti, Espaço Feminista.
A jovem Ana Clecia vai além e diz que não precisa ir a um juiz para provar que ela mora na sua casa, pois a testemunha que elas têm são elas próprias e as/os vizinhos. Ela relata que algumas pessoas vieram à comunidade e disseram que tinha alguns terrenos para as famílias, caso concordassem com a ordem de despejo, mas nós não somos gogo (minhoca) para viver na terra. Adicionando eles querem derrubar nossas casas que construímos com o nosso próprio esforço para construir uma praça como parte de um projeto de condomínio para gente rica. Mas não é assim, vai ter luta e resistência, diz Ana Clécia.
Em 2018, o Espaço Feminista realizou uma pesquisa sobre a posse e a segurança da terra relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis-ODSs. Em Caruaru, a pesquisa foi realizada inclusive na comunidade de Jacaré. As respostas e a tensão das moradoras com a ordem de despejo chamou atenção o problema da insegurança da posse da terra. Depois de algumas visitas à comunidade e a realização de grupos de discussão sobre a temática, o EF decidiu contratar um advogado especializado na área para defender o direito das famílias. Essa atividade faz parte do monitoramento realizado pelo EF que acompanha as situações relatadas em todas as áreas visitadas durante a pesquisa. Depois de 2 anos de tramitação, na última quinta-feira, dia 7 de Maio, o juiz do caso deu uma sentença em favor da permanência das 40 famílias. Na sentença a justiça reconheceu o direito das famílias de Jacaré a permanecerem na terra e nas casas onde moram há mais de 20 anos.
A LUTA CONTINUA!