Autor: Alexandre Mansur
O desafio de combater o desmatamento é complexo. Em parte porque ele não é só obra de grandes produtores rurais ou grileiros. Entre 2013 e 2016, no estado do Pará, a maior parcela da devastação ocorreu em área de assentamentos de reforma agrária. O total de desmatamento em assentamentos correspondeu a 33% do que foi cortado no estado no período. São assentamentos do Incra, o órgão federal.
Esse dado faz parte do relatório sobre desmatamento zero a ser divulgado pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O relatório mapeia os desafios e as oportunidades para acabar com a devastação ilegal – e legal também.
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A outra categoria em segundo lugar no desmatamento são as glebas federais, com 32% da devastação total. Trata-se de áreas públicas na maioria das vezes invadidas por grileiros. Partes dessas áreas podem ter sido destinadas para regularização fundiária ou estejam com posseiros. "É o patrimonio do povo que está sendo invadido e roubado", diz Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon e um dos autores do estudo.
Embora essas áreas somadas correspondam a apenas 26% do território do Pará, acabaram contribuindo com quase dois terços do desmatamento total ocorrido no estado nos últimos três anos.
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Como era de esperar, grande parte dos desmatamentos localizou-se próximo a grandes
obras de infraestrutura como a BR-163, trechos da Transamazônica e na área de impacto direto e indireto da usina hidrelétrica de Belo Monte.
O restante do desmatamento ocorreu em áreas protegidas (16%), glebas estaduais (6%), terras militares (menos de 1%) e glebas estaduais não destinadas ou não arrecadadas (13%). Os dados foram interpretados pelo Imazon a partir de informações fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O mapa abaixo mostra onde ocorreu o desmatamento no território do Pará. Os pontos vermelhos são ocorrências de desmatamento entre 2013 e 2016. As áreas em rosa mostram os assentamentos. As áreas em azul-escuro são as glebas federais. As grandes áreas amarelas onde há pouco desmatamento são terras indígenas.