"A situação na República Democrática do Congo é extremamente complexa", explica ao Vatican News Camillo Casola, analista do programa África do Instituto de Estudos de Política Internacional (ISPI). De fato, no ex-Zaire "atuam mais de 100 milícias" – observa ele - sobretudo concentradas nas regiões orientais do Kivu do Norte e do Sul e do Ituri", que visam “sobretudo os recursos minerais de que o país é rico, como diamantes, coltan*, cobalto".
R. - São violências e confrontos de vários tipos. Que na República Democrática do Congo há uma situação extremamente complexa, basta pensar que mais de 100 milícias estão ativas - de acordo com as estimativas dos principais centros de análise - concentradas principalmente nas regiões orientais do Kivu do Norte e do Sul e do Ituri. A violência e os confrontos dizem respeito principalmente à dinâmica de ocupação e controle dos territórios e, consequentemente, aos recursos disponíveis nessas áreas. Os confrontos opõem as milícias armadas às forças do Exército e do Estado, mas com sérias repercussões nas populações civis que, no entanto, também sofrem a resposta armada das forças armadas congolesas, por sua vez acusadas em várias ocasiões de violência, abuso, execuções extrajudiciais no país contra as comunidades civis. Além disso, existem conflitos étnicos ligados ao acesso aos recursos naturais. Disto, um cenário de crise extremamente complexo, envolvendo um número muito grande de pessoas deslocadas e refugiados: fala-se em quase um milhão de solicitantes de asilo congoleses nos Estados da região da África Central.
Na região de Beni e no Kivu do Norte foram registrados ataques da Aliança das Forças Democráticas. Quem são esses combatentes? Existem ligações com o exterior?
R. - Talvez seja o grupo armado mais conhecido, cujas ações adquiriram maior relevância na mídia do que as de outros. É um grupo de origem ugandense, na realidade presente na região desde meados dos anos 90. Sobretudo nos últimos tempos, adquiriu um papel central na dinâmica de crises e de conflitos no Congo: em particular, desde o ano passado, a reivindicação de alguns ataques violentos na região oriental congolesa pelo Estado Islâmico alimentou especulações ligadas a uma possível convergência desse grupo armado com a liderança do Estado Islâmico no Oriente Médio. De fato, foi proclamada na região centro-africana uma nova província do Estado Islâmico, que na realidade se estenderia até ao norte de Moçambique.
Quais recursos são o alvo de seus interesses?
R. - Quando falamos de conflitos comunitários, nos referimos a recursos naturais, portanto água, terras. Quando falamos, por outro lado, desse tipo de ativismo armado por milícias que ocupam os territórios no leste do Congo Kinshasa, nos referimos sobretudo aos recursos minerais de que o país é rico, como diamantes, coltan e cobalto. Trata-se de recursos minerais estrategicamente importantes e que representam algumas das razões do ativismo de tais grupos e dos confrontos com o Estado.
O UNICEF condenou o último ataque em Ituri, que matou 16 pessoas, incluindo cinco meninas: fala-se de estupro, mutilação, ataques a escolas e centros de saúde. Quem está atuando nessa área? São as mesmas milícias?
R. – Trata-se, de qualquer forma, de milícias armadas. Muitas vezes, é muito difícil entender especificamente a que grupo determinadas ações violentas podem ser atribuídas. Uma dinâmica que certamente merece destaque é aquela que diz respeito aos ataques não somente contra civis e crianças, mas também contra trabalhadores humanitários envolvidos nessas regiões para amenizar os efeitos das epidemias de ebola. Ao longo dos anos, estiveram sujeitos a violências para acentuar a desestabilização dessas áreas.
A União Europeia planeja uma ponte aérea humanitária para a visita do Comissário da UE para o gerenciamento de crises, Janez Lenarcic, com a colaboração da França e da Bélgica. Qual é a eficácia do esforço europeu e internacional neste momento na República Democrática do Congo?
R. - A ponte aérea humanitária da União Europeia é um sinal de um interesse renovado que pode se traduzir em um compromisso concreto do governo congolês para conseguir, de alguma forma, a assumir essa dinâmica de crise e de conflito. Porém tudo isso com a condição de que o governo de Kinshasa intervenha sobre quais são as dinâmicas que envolvem os próprios militares do exército por meio do exercício de formas de violência contra comunidades civis.
* Coltan é uma mistura de dois minerais: columbita e tantalita. Em português, essa mistura recebe o nome columbita-tantalita. Da columbita se extrai o nióbio e da tantalita, o tântalo. Esse último é um minério de alta resistência térmica, eletro-magnética e corrosiva e por tais capacidades é muito utilizado na fabricação de pequenos condensadores utilizados na maioria dos aparelhos eletrônicos portáteis (celulares, notebooks, computadores automotivos de bordo). O nióbio é semelhante ao tântalo além de ter potencial como supercondutor. Ambos metais foram e continuam sendo fundamentais para toda a tecnologia relacionada a equipamentos eletrônicos.