Hoje, a humanidade consome 74% a mais do que o que os ecossistemas globais podem regenerar
"Perdemos oportunidades quando fundos de resgate foram dados a grandes poluidores climáticos, como a aviação e a indústria da carne, sem nenhuma exigência de recuperação verde", disse Feldstein. "E continuamos a perder oportunidades todos os dias em que as autoridades se recusam a reconhecer as crises climáticas e de extinção como emergências – assim como a pandemia."
Como é estipulada a data
O Dia da Sobrecarga da Terra existe desde 2006. A Global Footprint Network (GFN), organização de pesquisa que apresenta a data a cada ano junto com o grupo ambiental WWF, compara o cálculo a um extrato bancário que rastreia receitas em relação aos gastos. Ele considera milhares de dados da ONU sobre recursos como florestas biologicamente produtivas, pastagens, terras de cultivo, áreas de pesca e áreas urbanas. Esse cálculo é então medido em relação à demanda desses recursos naturais, entre eles alimentos de origem vegetal, madeira, gado, peixe e a capacidade das florestas de absorver emissões de dióxido de carbono.
Hoje, a humanidade consome 74% a mais do que o que os ecossistemas globais podem regenerar. Para continuar vivendo nos padrões atuais, precisaríamos dos recursos de cerca de 1,7 planetas. E isso não parece mudar tão cedo. De acordo com a Agência Internacional de Energia, as emissões de CO2 relacionadas à energia — particularmente combustíveis fósseis como o carvão — deverão crescer 4,8% este ano sobre os níveis de 2020.
Impulsionar a bioeconomia
Feldstein, no entanto, vê algumas razões para ser otimista. "Os sinais mais esperançosos estão vindo de comunidades ao redor do mundo que estão levando a crise climática a sério, repensando o consumo e o crescimento, e integrando a equidade e a proteção ambiental em suas políticas", salientou.
Entre elas estão comunidades que buscam explorar a bioeconomia, trocando uma economia baseada em combustíveis fósseis por uma "de base biológica ou de base renovável", ao mesmo tempo em que enfrenta os desafios da sociedade, conforme delineado em um relatório de dezembro de 2019 do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI).
Rocio Diaz-Chavez, vice-diretora do SEI África, em Nairóbi, no Quênia, e autora do relatório, disse que a mudança para uma bioeconomia pode ajudar a preservar os recursos naturais para as gerações futuras, enquanto trabalha para criar indústrias sustentáveis. Ela destacou grupos regionais, como a Comissão Econômica da ONU para a América Latina e o Caribe, ou BioInnovate Africa, no Quênia, organizações que estão trabalhando para promover a bioeconomia e o desenvolvimento sustentável em suas regiões.
Diaz-Chavez disse à DW que a pandemia poderia ser a oportunidade para estas regiões explorarem alternativas à economia tradicional que "contribuiriam para a criação de empregos e melhorariam a subsistência, ao produzir alternativas aos produtos de combustíveis fósseis".
Um exemplo: reduzir a dependência do Sul Global de pesticidas e fertilizantes derivados de combustíveis fósseis importados do exterior em favor de biofertilizantes produzidos localmente. "Isto teria uma série de contribuições para a saúde humana e para o meio ambiente", assinalou, acrescentando que esta mudança também poderia ajudar a desenvolver cadeias alternativas de fornecimento para outros produtos sustentáveis.
Ela enfatizou, no entanto, que o desenvolvimento da bioeconomia depende da existência da infraestrutura necessária ou da melhoria das cadeias de abastecimento para apoiar e comercializar tais produtos, especialmente na África subsaariana.
Em busca de soluções
A "ecologização" de nossas economias não é a única maneira de nos trazer de volta ao equilíbrio com a Terra. Em seu site, sob o lema #MoveTheDate (mude a data), a Global Footprint Network destaca outras formas de aproximar essa data de 31 de dezembro.
Reflorestar uma área do tamanho da Índia, por exemplo, adiaria a data em oito dias, de acordo com a GFN. Reformas de edifícios e indústrias com tecnologias para economizar energia, como atualizações de sistemas, controles de conservação de água, sensores que controlam a iluminação com precisão, a temperatura e a qualidade do ar, atrasariam a data em 21 dias.
Os alimentos são outra área importante — segundo a GFN, metade da biocapacidade da Terra é usada apenas para nos manter alimentados. Mas muito desse alimento é perdido devido a ineficiências durante o processo de produção, ou desperdício. Estima-se que 30% a 40% dos alimentos nos EUA acabem em aterros sanitários a cada ano.
Eliminando a perda e o desperdício de alimentos, reduzindo o consumo de carne e escolhendo alimentos cultivados com práticas agrícolas mais sustentáveis e menos dependentes de combustíveis fósseis, outro mês poderia ser adicionado à conta de biocapacidade da Terra. Mudar para dietas mais baseadas em vegetais, por exemplo, poderia ajudar a reduzir as emissões relacionadas aos alimentos em até 70% até 2050, de acordo com um recente relatório preliminar divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.
"Enquanto precisamos fazer a transição da agricultura industrial como um todo, não podemos resolver este problema simplesmente ajustando a forma como os alimentos são produzidos — devemos mudar o que é produzido", disse Feldstein, acrescentando que, enquanto os combustíveis fósseis são responsáveis por mais emissões em geral, a produção de carne e laticínios também é uma das principais causas da perda de habitats pelo mundo. "Os governos podem acelerar esta mudança, ao apoiar a agricultura e dietas baseadas em vegetais, e acabando com os subsídios para carne e laticínios".
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